quinta-feira, 27 de agosto de 2009

FOTOS DAS TARDES DE ESTUDO DO GESTAR II - TERRA DA LUZ




MEMORIAL DE LEITURA

Tinha uns três ou quatro anos, mas já acompanhava as leituras e atividades da sala de aula que existia na casa de minha avó materna.
Lembro bem: Na primeira sala funcionava a escolinha da Tia Madrinha, irmã mais velha de minha mãe. Uma turma de seis alunos formava a primeira série. Estudavam de treze às quinze horas e nesse pouco tempo, tinham um bom aproveitamento. A outra turma, um aluno a menos, era a segunda série e estudavam de quinze às dezessete horas. A professora, Tia Madrinha, entrava na sala abraçando os livros e os debruçava sobre a mesa como se fossem suas crias. Nesta época, não havia uma invasão da mídia dentro de nossas casas e a grande distração das crianças, além das brincadeiras de roda, eram os livros.
Não recordo o nome da cartilha adotada, no entanto, lembro a palmatória utilizada na hora das correções e sabatinas. Nenhum aluno saía sem provar, pelo menos uma vez, o ardor da madeirinha na mão. E nenhum aluno abandonava a escola por causa desse acontecimento. Reclamação dos pais, trauma pela palmatória na mão, não existiam. O clima era de alegria e vontade de aprender.
Esses e muitos fatores explicam minha alegria ao ouvir minha tia comentando com meus pais, que no ano seguinte eu iria estudar. E finalmente, chegou a hora tão esperada.
A partir de então, dei início ao meu mundo da leitura. Vivia sempre com um caderninho na mão, rabiscando, desenhando e já conseguia ler algumas palavras nos livros emprestados da biblioteca da escola. Não sei se hoje posso chamar de biblioteca, as poucas estantes da sala escolar.
Brincava de ser professora das minhas amigas quase todos os dias e quando não vinham, minhas bonecas de pano faziam a vez.
Estudei nessa escolinha até a quarta série e quando ingressei em uma escola maior, levei uma bagagem valiosíssima de livros lidos, porque o forte da escola era a leitura. Não a leitura obrigatória das “fichas prontas de leitura”. Mas leituras prazerosas nos livros infantis que a professora fazia questão de dividir com os alunos na “hora do conto”. Cada criança lia um pouco ou um trecho e a professora escolhia alternado. O interesse das crianças era tanto que não passavam um dia sem a leitura de textos, poesias e memórias. Nossa mestra dizia sempre que “ler é indispensável para que se possa aprender sempre, ao longo de toda a vida. É por isso que a leitura e a escrita são decisivas na formação do indivíduo”.
Apesar de ter passado muitos anos brincando de ser professora, não era essa a profissão que eu sonhava na juventude. Pretendia seguir a área da saúde, mas as circunstâncias me levaram a morar num interior onde eu só tinha duas opções de formação: História ou Letras.
“Letras! Pronto! Vou ser professora!” E o sonho de menina virou realidade.
Gostosas, memoráveis tardes de leitura que se prolongavam até a noitinha. Lia Machado de Assis, Jorge Amado, José de Alencar, Érico Veríssimo, Arthur Hailey, Agatha Chistie, Sidney Sheldon e os mais variados tipos de textos e autores. Depois direcionei mais minhas leituras à Educação, lendo José Carlos Libâneo, Paulo Freire, Otaíza de Oliveira Romanelli, vigotski e muitos outros. Isso não quer dizer, porém, que tenha abandonado as leituras anteriores. Lembro bem da mudança em minha vida quando li: “O Menino do Dedo Verde”, “Capitães de Areia” e “Meu Pé de Laranja Lima”. Sofria cada minuto da história porque ao ler os textos, ao mesmo tempo que passava os olhos sobre eles, ia recorrendo a tudo o que já sabia e sentia. Ou seja, não lia apenas com os olhos, mas com todos os sentidos e sentimentos. É interessante como minha netinha de três anos já interaje, se relaciona e dialoga com os personagens ao ouvir as histórias na escola ou em casa. E na sua inocência passa o resto do dia querendo ser identificada como a personagem daquele livro.
Hoje, educadora, mãe e avó, sei da importância da leitura em nossa vida e do valor imensurável do prazer de ler. A leitura é uma atividade coerente, lógica, que nos torna mais capazes de lidar com o mundo de hoje. Devo esclarecer que quando saí de sala de aula, fui trabalhar, na mesma escola, na biblioteca. Foi não só interessante mas profundamente importante este contato direto que tive com os livros porque a familiaridade com eles foi fundamental para expandir meu conhecimento sobre as estórias em si, sobre tópicos de estórias, estrutura textual e sobre escrita.
Para finalizar, quero dizer que tive uma grande alegria, quando, visitando em 2008, a Bienal do Livro, comprei para meu netinho, que na época tinha apenas três meses, uma coleção de livros intitulada, “Livros de Banho”. Desde essa época, folheamos os livrinhos para ele. Hoje, com dez meses, já folheia sozinho, seus livrinhos de banho e se delicia com as figuras ali tão bem ilustradas.
Posso dizer que, quando ele for fazer seu memorial de leitura, irá contar que seu primeiro contato com os livros foi aos três meses de idade. Olhando para o que se passou, constato como os livros foram e ainda são importantes na minha vida. E é bom destacar, tendo em vista tais reflexões, que eles me acompanham a vida inteira.